quarta-feira, 10 de junho de 2009



E repentinamente Dora decidiu, cheia de alegria e cor, mostrar-se. Fugiu de casa, enlouquecida, primitiva, espírito de aventura, insondável, arriscou, não pediu licença para aparecer. Tudo que uma mulher não costumava ser, tudo que ela não podia ser. Perdeu a "vergonha".

Ela decidiu mudar sua vida de "perfeita rainha do lar". Sobre todas que tomaram a decisão de mudar de vida pairou uma desconfiança de falta de vergonha na "cara". Porque as "honestas", as que denominavam-se "direitas", tinham vergonha. Tinham vergonha de ser mulher, na verdade, ninguém nunca compreendeu ao certo por quê.

Dora ocultava as reações do corpo e o próprio corpo, até os mais evidentes desejos, ocultava até o que pensava, sentia apenas o que lhe era permitido. Se estava satisfeita ou insatisfeita, quem ligava? Importava ser "direita", ter vergonha, ser recatada conhecendo o seu lugar.

Imaginem se, de uma hora para outra, deixando os bloqueios de lado, as mulheres decidissem falar o que pensavam, o que desejavam da vida, o que setiam? Não exatamente confessando para as melhores amigas ou nos diários trancafiados, mas escandalosa e abertamente?

Inicio agora uma série de textos refazendo o caminho daquelas que foram quebrando o silêncio sobre o feminino e reinventando a coragem de ser mulher.

Um comentário:

PIBID/ PROBID disse...

Ótimo texto Vanuza. Acho que isto faz parte de nossas vidas, ainda mais por sermos mulheres, que vivemos sob aquele tremendo medo de quebrar certos tabus de nossa sociedade, que para sermos mulheres "direitas" não podemos fazer aquilo e nem acú-la. Lembrei tambem de um texto maravilhoso sobre Politica e Mulher, tinha uma parte que falava que nós mulheres tinhamos certos receios de cargos publicos ou politicos, pois vivemos sob essa sociedade que diz que lugar de mulher é em casa, e que muitas se acustumavam e aceitavam nesse lugar de inferioridade e nao queriam ascender socialmente. No livro fala que hoje em dia, existe sim muitas mulheres nesses cargos( publicos e politicos) mas o numero com certeza nao chega perto ao dos homens. Mas que neste processo e ascenção as mulheres, muitas quebraram certos "tabus", como você disse "quebrando o silêncio sobre o feminino e reinventando a coragem de ser mulher."


BEIjos e espero anciosa seus proximos textos.