terça-feira, 21 de outubro de 2008

Corpo e Gênero


O corpo como situação, segundo Judith Butler analisando Simone de Beauvoir, "o corpo como um lugar de interpretações culturais é uma realidade material que já foi situado e definido dentro de um contexto social(...) O corpo torna-se um nexo peculiar de cultura e escolha (...) então gênero e sexo parecem ser questões inteiramente culturais." O corpo feminino, o corpo masculino. Polaridade de gênero.

Analisando essas idéias, lembrei-me de uma história que ouvi sobre Coema e Quirimã, índios tupinambás. Quando Coema menstruou pela primeira vez, teve os cabelos cortados e as costas arranhadas com presas de onça pintada. Quando os cabelos crescessem e as feridas cicatrizassem, ela seria entregue como esposa a um guerreiro da tribo. Em várias tradições indígenas, no final da infância, havia um ritual de passagem para a adolescência, variando de tribo para tribo. As meninas eram isoladas e ficavam de jejum por algum tempo, ouvindo mulheres mais velhas a respeito da condição feminina. Solteiras usavam os cabelos soltos; ao se casarem, aos 12 ou 13 anos, cortavam o cabelo à altura das orelhas, poliam os dentes e arrancavam pestanas e sobrancelhas. Já os meninos recebiam um tembetá ou metara, é uma espécie de adorno confeccionado com ossso, pedra ou madeira, no lábio inferior, simbolizando a virilidade. Só se tornavam adultos após demonstrar coragem e habilidade guerreira. A pintura corporal era essencial no relacionamento entre as pessoas, pois identificava o indivíduo, sua ação e seus sentimentos.

Voltando aos tupinambás, Coema e Quirimã andavam constantemente juntos, apanhando frutos ou tanajuras (içás). Tatuavam-se, depilavam-se, catavam e comiam piolhos um do outro e tomavam banho de rio várias vezes por dia. Quirimã já havia trocado a ponta de chifre de veado que seu pai usara para atravessar-lhe o lábio inferior por uma pedra grande e verde, significando que Quirimã se tornara um homem, porém permanecia com um único nome (quando um guerreiro matava um inimigo, ganhava um nome novo) e não podia casar com Coema , pois ainda não matara nenhum inimigo. Voltando a Judith Butler, agora analisando Monique Wittig, "a demarcação da diferença dos sexos não precede a interpretação daquela diferença, mas essa demarcação é por sua vez um ato interpretativo carregado de pressupostos normativos sobre um sistema binário de gêneros." O que signifca ser homem? O que significa ser mulher?

17 comentários:

Unknown disse...

Vanuza, fiquei muito feliz pelo seu comentário. São coisas como essas que me fazem ter mais certeza de que devo investir na área.
Eita, tá de blog também né, mocinha? Avisa sempre que tiver post novo que eu venho, ok?
:]

Cileninha Farias disse...

É tão difícil falar sobre essa questão de gênero, além de nos levar a tópicos como: O marxismo presente na ideologia no tocante ao gênero, a definição de família, doutrina cristã a respeito da sexualidade, homofobia, educação, identidade, papel social... Simone de Beauvoir, que alcançou espaço valioso para a expressão da alma feminina, propõe que homem e mulher se reconheçam como semelhantes, para que atinjam a liberdade. Dizem que não existe homem e mulher natural, o ser humano nasce sexualmente neutro. O gênero é construído com o passar do tempo, sendo mulheres e homens “produtos do meio”. As características de gênero variam através da história e dizem respeito ao papel cultural e psicológico que a sociedade atribui. Queria saber responder esse post, mas tá difícil. Beijos, Vanuza.

Van disse...

Concordo plenamente com você. suas considerações foram bastante pertinentes. Obrigada. São comentários de alunas como você que me animam a continuar na profissão e poder discutir assuntos que fujam do universo comum da escola. Beijo

Felipe Gesteira disse...

Apesar de achar que o papel da mulher deveria se resumir a obedecer e servir (risos!), estou muito orgulhoso de vc e do seu blog.
Beijos, te amo.

Luana Ferraz disse...

No mundo de hoje, é justamente esta pergunta que nos demanda, e amplia horizontes, e nos concede essa reflexão tão peculiar. Eis que surge cada vez mais ênfase a questão gênero e seus reais valores. Se é que eles verdadeiramente existem... Definição difícil.

osvjor disse...

não entendi nada. foi proposital?

Van disse...

Não sei. Principalmente se você for leitor de Beauvoir e Butler, ou entender um pouquinho sobre gênero e sexualidade. bem, caso você queira conversar sobre o assunto estou disposta a colaborar. :)

osvjor disse...

infelizmente não me encontro qualificado. obrigado.

Jéssica disse...

Em seu livro,A Dominação Masculina Bourdieu estabelece a dominação de gênero no centro da economia das trocas simbólicas. Na sua análise, a constatação de que está prática esta corporificada, fazendo vítimas tanto a mulheres quanto a homens. O corpo é, portanto, o lugar onde se inscrevem as disputas pelo poder, é nele que o nosso capital cultural está inscrito, é ele a nossa primeira forma de identificação desde que nascemos – somos homens ou mulheres. Por conseguinte, o nosso sexo define se seremos dominados ou dominadores. O corpo é a materialização da dominação, é o “locus” do exercício do poder por excelência. Assim:
“a simples observação dos órgãos externos ‘diagnostica’ uma condição que deve valer para toda a vida. Passamos a ser homens ou mulheres e as construções culturais provenientes dessa diferença evidenciam inúmeras desigualdades e hierarquias que se desenvolveram e vêm se acirrando ao longo da historia humana, produzindo significados e testemunhando práticas de diferentes matizes."

Jéssica disse...

Continuaçao:
Margareth Mead, faz um estudo em tres sociedades primitivas da Nova Guine.Ela em sua obra disvicula a ideia de que o sexo(bilogico) defina o comportamneto dos individuos ou seu temperamento.Ser homem e ser mulher,alem da genetica,em termos de temperamento, é algo construido socialmente, algo idealizado pela sociedade em que vivemos.

Adorei o blog.Pena não estar mais postando aqui
Aqui em baixo vai meu endereço:www.juriaeinjuria.blogspot.com

bjs

Annais Sanchez disse...

Gracias por tu visita.
Sabes me encanta tu blog y soy seguidora.

Annais Sanchez disse...

Gracias por tu visita.
Sabes me encanta tu blog y soy seguidora.

Van disse...

Amigos, brevemente voltarei a conversar com vocês. Estive fora por muito tempo. Um beijo grande. Muito Axé em 2009 para todos.

RayanneCosta disse...

obrigada pelo comentário.
você tbm adora escrever ein? rs.
ta muito legal aqui viu?
beijos:*

Unknown disse...

Voltaaaa!
o/

Amiga de Deus ♥ disse...

Muito bacana o bloguer!
Parabéns!

Beijos..Fique com Deus! =D

Sueliton Oliveira disse...

Vanuza, Adorei o blog \õ
Já sou seguidor.

E respondendo a sua pergunta...
Acho que homem e mulher são iguais, tava lendo outro dia ''acho que era Aristoteles que falava que a mulher é um homem inacabado'' Mas não concordo com isso, acho que é devido a esses pensamentos que o machismo predomina. E também tem a questão religiosa... A igreja contribui muito para a desvalorização da mulher. Mas, pra mim o que define um ser humano não é o sexo, e sim suas ações. Todos somos iguais. Uns mais inteligentes, outros um tanto estúpidos, mas todos com qualidades e defeitos.

Vanuza, uma dúvida que foge muito do contexto: ''Simone de Beauvoir era lésbica?''

Bjo, tô adorando o BLOG \õ/