Em Os silêncios do corpo da mulher, Michelle Perrot fala das mulheres, pessoas esquecidas, sem voz na História. Do silêncio do corpo (restrito a função anônima e impessoal da reprodução).
Onde se encontra o corpo feminino? Nos discursos médicos, poéticos e políticos e nas imagens de quadros, esculturas e cartazes.
O corpo feminino exposto, encenado, objeto de olhares e desejos. O corpo feminino falado, porém permanece calado e opaco. Mulheres não falam (por muito tempo não devem falar) do próprio corpo. Eis a marca da feminilidade construída ao longo da História.
O peso do silêncio. Corpo privado oculto. Corpo público exibido, apropriado e carregado de significação. Assim como os corpos do rei, na obra Os dois corpos do rei (Kantarowics, 1998).
Zonas de silêncio. O corpo feminino reduzido ao silêncio da figuração muda. A vitrine do marido, de acordo com a filosofia pitagórica. Espetáculo do homem na publicidade e na arte. Alegoria política do Estado. O corpo feminino apagando as singularidades em função de conformar-se a um modelo impessoal. Discrição, dissimulação através de códigos (variáveis segundo o lugar e o tempo), comedimento nos gestos, olhares e exteriorizações de emoções, uso da voz e permissão ao choro discreto (atributo particular de sua feminilidade).
O silêncio da vida íntima do corpo da mulher, etapas de transformação do corpo feminino, mutações que as levam a reprodução. Menstruação, masturbação e menopausa.
A vida sexual feminina, cuidadosamente diferenciada da procriação, também permanece oculta. O prazer feminino negado e reprovado. A sexualidade coagida como dever conjugal. A descrição cerca o leito conjugal.
Infanticídio e aborto, remotas profundezas do silêncio solitário. Angústia quanto aos muitos nascimentos. Sedução criando o perigo do nascimento ilegítimo. Repressão da Justiça. Parteiras e médicos "marrons". Leis de 1920 e 1923. Corpo nacionalizado.
O silêncio sobre o corpo feminino como alvo de violência. Direito privado, segredos de família e pátrio poder. Espancamento, estupro e incesto.
Última zona de silêncio: as doenças das mulheres. As doenças do corpo e as doenças do espírito. Por que esse silêncio? "Quais são os fundamentos, as raízes do silêncio acerca do corpo da mulher?" Silêncio de longa duração, alicerçado na construção do pensamento simbólico da diferença entre homem e mulher. Reforçado ao longo do tempo pelo discurso médico e político. As representações do corpo feminino fundamentadas a partir do pensamento filosófico grego. As representações religiosas, sobretudo presentes nas grandes religiões ocidentais. O século XIX determina a negação à instrução para as meninas do povo e com reservas para as das camadas privilegiadas. A educação é essencial para todas, usada como amparo sociocultural para a dominação do corpo feminino.
Onde se encontra o corpo feminino? Nos discursos médicos, poéticos e políticos e nas imagens de quadros, esculturas e cartazes.
O corpo feminino exposto, encenado, objeto de olhares e desejos. O corpo feminino falado, porém permanece calado e opaco. Mulheres não falam (por muito tempo não devem falar) do próprio corpo. Eis a marca da feminilidade construída ao longo da História.
O peso do silêncio. Corpo privado oculto. Corpo público exibido, apropriado e carregado de significação. Assim como os corpos do rei, na obra Os dois corpos do rei (Kantarowics, 1998).
Zonas de silêncio. O corpo feminino reduzido ao silêncio da figuração muda. A vitrine do marido, de acordo com a filosofia pitagórica. Espetáculo do homem na publicidade e na arte. Alegoria política do Estado. O corpo feminino apagando as singularidades em função de conformar-se a um modelo impessoal. Discrição, dissimulação através de códigos (variáveis segundo o lugar e o tempo), comedimento nos gestos, olhares e exteriorizações de emoções, uso da voz e permissão ao choro discreto (atributo particular de sua feminilidade).
O silêncio da vida íntima do corpo da mulher, etapas de transformação do corpo feminino, mutações que as levam a reprodução. Menstruação, masturbação e menopausa.
A vida sexual feminina, cuidadosamente diferenciada da procriação, também permanece oculta. O prazer feminino negado e reprovado. A sexualidade coagida como dever conjugal. A descrição cerca o leito conjugal.
Infanticídio e aborto, remotas profundezas do silêncio solitário. Angústia quanto aos muitos nascimentos. Sedução criando o perigo do nascimento ilegítimo. Repressão da Justiça. Parteiras e médicos "marrons". Leis de 1920 e 1923. Corpo nacionalizado.
O silêncio sobre o corpo feminino como alvo de violência. Direito privado, segredos de família e pátrio poder. Espancamento, estupro e incesto.
Última zona de silêncio: as doenças das mulheres. As doenças do corpo e as doenças do espírito. Por que esse silêncio? "Quais são os fundamentos, as raízes do silêncio acerca do corpo da mulher?" Silêncio de longa duração, alicerçado na construção do pensamento simbólico da diferença entre homem e mulher. Reforçado ao longo do tempo pelo discurso médico e político. As representações do corpo feminino fundamentadas a partir do pensamento filosófico grego. As representações religiosas, sobretudo presentes nas grandes religiões ocidentais. O século XIX determina a negação à instrução para as meninas do povo e com reservas para as das camadas privilegiadas. A educação é essencial para todas, usada como amparo sociocultural para a dominação do corpo feminino.